No reino do chico-espertismo

Há uns tempos, li um texto do Eduardo Prado Coelho em que, de forma inteligente, era discutido o eterno problema do descontentamento dos portugueses relativamente aos seus políticos. Olhando para os últimos Governos, podemos afirmar que a opinião geral é / foi a de que Guterres falhou, que Barroso e Santana também, e que, agora, Sócrates poderá falhar. Diz Prado Coelho que o problema está também em nós, portugueses, povo de chicos-espertos, povo que, como nenhum na Europa, é mestre na arte do desenrascanço. Concordo com o Eduardo Prado Coelho: por melhores que sejam os nossos políticos, nada farão com um povo que valoriza os que são capazes de enganar o sistema fiscal, os que são capazes de enganar as autoridades, os que são capazes de ter chorudas contas na Suiça e declarar o ordenado mínimo no IRS em Portugal, os que são capazes de comprar atestados médicos (e os que são capazes de os vender) para faltar ao trabalho, os que são capazes adoecer à sexta-feira depois de uma quinta-feira em que foi feriado para fazerem a ponte que o patrão ou o Estado não quiseram dar, os que são capazes de apresentar aos médicos uma lista de doenças possíveis para se poderem reformar mais cedo. A mediocridade do nosso povo vê-se nos mais pequenos pormenores, como sejam o cuspir no chão ou deitar na auto-estrada o guardanapo da sandes que se acabou de comer. Um dos melhores exemplos desta nossa mediocridade é a maneira como conduzimos. Na estrada, revelamos toda a nossa pequenez. Não vou falar dos acidentes, mas dos chicos-espertos que encontram sempre maneiras de passar à frente de todas as pessoas que estão no trânsito, revelando assim toda a extensão da sua imensa idiotice.